segunda-feira, 29 de novembro de 2010

OTHER PEOPLE*

'Time is fluid here', said the Demon.

He Known it was a demon the moment he saw it. He known it, just as he knew the place was Hell.

There was nothing else that either of them could have been.

The room was long, and the demon waited by a smoking brazier at the far end. A multitude of objects hung on the rock-grey walls, of the kind that it would not have been wise or reassuring to inspect too closely. The ceiling was low, the floor oddly insubstantial.

'Come close', said the demon, and he did.

The demon was rake-thin, and naked. It was deeply scarred, and it appeared to have been flayed at some time in the distant past. It had no ears, no sex. Its lips were thin and ascetic, and its eyes were a demons's eyes: they had seen too much and gone too far, and under their gaze he felt less important than a fly.

'What happens now' he asked.

'Now' said the demon, in a voice that carried with it no sorrow, no relish, only a dreadful flat resignation, 'you will be tortured'.

'For how long?'

But the demon shook its head and make no reply. It walked slowly along the wall, eyeing first one of the devices that hung there, then another. At the far end of the wall, by the closed door, was a cat-o'nine-tails made of frayed wire. The demon took it down with one three-fingered hand and walked back, carrying it reverently. It placed the wire tines on the brazier, and stared at them as they began to heat up.

'That's inhuman'

'Yes'

The tips of the cat's tails were glowing a dead orange.

As the demons raised its arm to deliver the first blow, it said 'In time you remember even this moment with fondness.'

´You are a liar.'

'No.' said the demon. 'The next part,' It explained in the moment before it brought down the cat, 'it worse.'

Then the tines of the cat landed on the man's back with a crack and a hiss, tearing through the expensive clothes, buring and rending and shredding as they struck and, not for the last time in that place, he screamed.

There were two hundred and eleven implements on the walls of that room, and in time he was to experience each of them.

When, finally, the Lazarene's Daughter, wich he had grow to known intimately, had been cleaned and replaced on the wall in the two hundred and eleventh position, then, through wrecked lips, he gasped, 'Now what?'

'Now', said the demon, 'the true pain begins.'

It did.

Everything he had ever done that had been better left undone. Every lie he had told – told to himself, or told to others. Every little hurt, and all the great hurts. Each one was pulled out to him, detail by detail, inch by inch. The demon stripped away the cover of forgetfulness, stripped everything down to truth, and it hurt more than anything.

'Tell me what you thought as she walked out of the door,' said the demon.

'I thought my heart was broken.'

'No,' said the demon, without hate, 'you didn't.' It stared at him with expressionless eyes, and he was forced to look away.

'I thought, now she'll never known I've been sleeping with her sister.'

The demon took apart his life, moment by moment, instant by instant to awful instant. It lasted a hundred years, perhaps, or a thousand – they had all the time there ever was, in that grey room – and towards the end he realised that the demon had been right. The physical torture had been kinder.

And it ended.

And once it had ended, it began again. There was a self-knowledge there he had not had the first time, which somehow made everything worse.

Now, as he spoke, he hated himself. There were no lies, no evasions, no room for anything except the pain and the anger.

He spoke. He no longer wept. And when he finished, a thousand years later, he prayed that now the demon would go to the wall, and bring down the skinning knife, or the choke-pear, or the screws.

'Again,' said the demon.

He began to scream. He screamed for a long time.

'Again,' said the demon, when he was done, as if nothing had been said.

It was like peeling an onion. This time, through his life he learned about consequences. He learned the results of things he had done; things he had been blind to as he did them; the ways he had hurt the world; the damage he had done to people he had never known, or met, or encoutered. It was the hardest lesson yet.

'Again,' said the demon, a thousand years later.

He crouched on the floor, beside the brazier, rocking gently, his eyes closed, and he told the history of his life, re-experiencing it as he told it, from birth to death, changing nothing, leaving nothing out, facing everything.

He opened his heart.

When he was done, he sat there, eyes closed, waiting for the voice to say, 'Again,' but nothing was said. He opened his eyes.

Slowly, he stood up. He was alone.

At the far end of the room, there was a door, and as he watched, it opened.

A man stepped through the door. There was terror in the man's face and arrogance, and pride. The man, who wore expensive clothes, took several hesitant steps into the room, and then stopped.

When he saw the man, he understood.

'Time is fluid here,' he told the new arrival.


*Este é um conto de Neil Gaiman, publicado na coletânea Fragile Things. Já achei esse texto em traduções para o Português, e lido pelo próprio Gaiman, mas tive dificuldade em encontrar a versão no livro. Como é meu conto favorito do Neil Gaiman, e a tradução perde muito da narrativa, decidi eu mesmo colocar na versão original.

Mas, comprem o livro, vale cada linha, como tudo o mais de Neil Gaiman.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Pagando uma dívida.

A algum tempo, a JuDacoregio mandou um meme pelo seu blog pessoal, o Escrava das Letras. Bom, isso já faz algum tempo, mas eu não esqueci, e agora vou responder.

A ideia é escrever 9 coisas aleatórias a meu respeito, que vierem na minha cabeça. Agora que tenho que fazer isso mesmo, começo a lembrar porque enrolei tanto...

1 - Eu gosto de debater, de discutir ideias. Eu me orgulho da minha inteligência, e gosto de ser reconhecido por ela. Sim isso é narcisista, eu sei. Mas quem não tem nenhuma vaidade que atire a primeira pedra.

2 - Adoro música. Sou completamente apaixonado por música. Escuto de Beatles a Enya. De Pink Floyd e Queen a Beethoven, de Black Sabbath e Motorhead a Norah Jones. De Emma Shapplin a Europe.

3 - Sou viciado em livros. Sempre leio mais de um ao mesmo tempo. Procuro escolher sempre no mínimo um livro relacionado a ciência, e um livro de ficção. Se não tenho nada novo, releio algum do Carl Sagan, ou do Neil Gaiman. E alguns livros eu leio periodicamente.

4 - Tenho problemas para conviver com pessoas com as quais não tenho afinidade, ou não respeito intelectualmente. Prefiro não falar com ninguém por dias, do que falar com pessoas que não vão acrescentar nada.

5 - Um dos meus objetivos, e um dos motivos pelos quais escolhi a carreira acadêmica, é que pretendo trabalhar no exterior em algum momento. E não lavando pratos. Se for pra ir pra outro país, quero entrar pela porta da frente.

6 - Gosto de conhecer lugares. E não é visitar como turista. Gosto de ficar um tempo, de viver o cotidiano do lugar, de sentir como são os ambientes e as pessoas. Esse tipo de experiência sempre enriquece nossa visão do mundo.

7 - Não consigo trabalhar ou estudar em completo silêncio. Sou muito dispersivo. Ouvir música é uma forma de dispersar de forma controlada, e manter a produtividade.

8 - Defendo o uso da razão, e acho nossa característica primordial. Nossa razão é nossa única diferença ao resto das espécies. Mas sou passional. Não sei fazer coisas que não me conquistam, pelas quais não sou apaixonado.

9 - Sempre que ando de avião, levo no mp4 a música Moonlight Sonata, de Beethoven, pois se o avião cair, irei aproveitar o tempo para ouvir essa música.


quinta-feira, 2 de setembro de 2010

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Afinidade e tempo


Uma amizade pode surgir sob as formas mais diversas imagináveis, mas uma coisa em comum todos meus amigos (e você que leu outros posts, sabe que quero dizer AMIGO). Uma coisa em comum entre todos que realmente significam algo na minha vida, aqueles pelos quais eu entraria em uma luta a qualquer momento, é que todos tiveram uma afinidade praticamente instantânea. Com todos eles, o comentário de conhecidos em comum sempre foi:

- A quanto tempo eles se conhecem? Nunca vi alguém ganhar confiança tão rápido! E outras frases semelhantes.

Esse padrão me fez criar algumas diretrizes que sigo em minha vida:

1 - Afinidade não significa tempo. Pessoas com afinidade descobrem isso em alguns minutos. Ou seja, pessoas que você conhece a décadas podem nunca significar nada para você. Não é algo para sentir vergonha. É como funciona o mundo - Desencana.

2 - Se você não sentiu afinidade por alguém, não tente forçar. Isso só vai levar a decepções no futuro.

3 - Se você sentiu afinidade por alguém, por mais breve que tenha sido o contato, não sinta vergonha em admitir isso, em dizer que gostou daquela pessoa. Coloque a culpa nos ferormônios, em vidas passadas, tanto faz... mas não tenha medo de sentir afinidade por alguém. A vida é curta demais e as pessoas que valem a pena são poucas demais. Não deixe de aproveitar uma amizade.

Enfim, a lição que fica de alguém que não tem e nem procura muitos amigos é:

Se você quer AMIGOS, não tenha vergonha de admitir seus sentimentos. Eles poderão ser poucos, você poderá cometer erros, mas sua vida vai valer a pena.

sábado, 31 de julho de 2010

Sobre ler


Sempre que leio um bom livro, tenho o ímpeto de compartilhar as epifanias e devaneios que ele me proporciona. Alguns livros me fizeram escrever páginas e páginas de anotações e futuros textos, que nunca foram publicados. Esse padrão é tão frequente, que me fez perguntar porque eu não compartilho essas experiências. E a resposta é uma só. Ler um livro é como um beijo, uma carícia. Ler é uma experiência pessoal. Eu posso escrever centenas de páginas sobre o efeito de um livro (ou sobre sentir as carícias e beijos de alguém) e mesmo assim ninguém vai sentir da mesma forma que eu. E eu nunca vou sentir da mesma forma que você.

Todo aprendizado é pessoal. O máximo que podemos esperar, é compartilhar nossas fontes e experiências, e acreditar que as outras pessoas vão extrair algo relevante dessa interação.

Então, fica uma lista de livros que mudaram minha forma de enxergar algum aspecto do mundo. Mas antes de começar a ler, lembre-se:

Assim como um beijo, um livro só deve ser degustado quando se esta pronto para aceitar as consequências dessa escolha. Um beijo sem significado é um pecado contra si mesmo, assim como desperdiçar a leitura de um bom livro.

A insustentável Leveza do Ser - Milan Kundera
O Lobo da Estepe - Hermann Hesse
Cem Anos de Solidão - Gabriel Garcia Marquez
Memórias do Subsolo - Fiódor Dostoiévski
Fragile Things - Neil Gaiman
O Pequeno Príncipe - Antoine de Saint-Exupéry
A Metamorfose - Franz Kafka
A Menina que Roubava Livros - Markus Zusak

Gostaria de acrescentar algum livro à lista?

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Amigos

Sempre que esse assunto é colocado em pauta, me lembro de uma cena do filme Tombstone. Um dos coadjuvantes inicia o seguinte diálogo com Doc. Holliday.


Turkey Creek Jack Johnson: Why you doin' this, Doc?
Doc Holliday: Because Wyatt Earp is my friend.
Turkey Creek Jack Johnson: Friend? Hell, I got lots of friends.
Doc Holliday: ...I don't.


Turkey Creek Jack Johnson: Porque você esta fazendo isso, Doc?Why you doin' this, Doc?
Doc Holliday: Porque Wyatt Earp é meu amigo.
Turkey Creek Jack Johnson: Amigo? Inferno, eu tenho vários amigos.
Doc Holliday: ...Eu não.

Eu gostaria de comentar mais sobre ter amigos. Mas sobra muito pouco para falar depois da eloquência de Doc Holliday.




quinta-feira, 22 de julho de 2010

Para Divulgar

Aproveito o espaço para divulgar o Blog - http://www.sindromedosanjos.blogspot.com/

Um blog feito por uma mãe, para divulgar informações sobre uma doença genética rara.

Deixo com vocês, as palavras dela:

Recentemente criei um blog contando a história do meu filho (Guille) e a Síndrome de Angelman, e lá eu faço comentários como mãe, bem como dou informações sobre assuntos mais "técnicos" - não apenas da Síndrome de Angelman, mas tb de outras doenças raras.

Neste blog conto toda a luta desde as primeiras manifestações da síndrome, a busca pelo dignóstico correto, médicos, tratamentos e terapias e tudo que passamos dia a dia convivendo com uma criança com a Síndrome de Angelman. Tb terão dicas e experiências de outras famílias, novidades do cenário mundial quanto a novos tratamentos e descobertas científicas.

Gostaria que vcs visitassem o blog e se associassem como “Amigos do Guille" e que me ajudassem a divulgar o blog e a Síndrome de Angelman. Não conheço ninguém melhor que os amigos e aliados na crença científica para me ajudar na divulgação. Creio que ao lerem sobre a Síndrome de Angelman poderão entender pq alguns se tornam descrentes e outros se agarram a religião tão ferozmente! Façam comentários e sugestões de pauta para que eu possa melhorar cada vez mais o blog. Bem vindos ao mundo do meu anjo: o Blog do Guille!
"BloGuillem-se!"

O endereço é www.sindromedosanjos.blogspot.com

Obrigada e bjs!

sábado, 3 de julho de 2010

O Amor é uma Falácia


M. Sulman

Eu era frio e lógico. Sutil, calculista, perspicaz, arguto e astuto - era tudo isso. Tinha um cérebro poderoso como um dínamo, preciso como uma balança de farmácia, penetrante como um bisturi. E tinha - imaginem só - dezoito anos.

Não é comum ver alguém tão jovem com um intelecto tão gigantesco. Tomem, por exemplo, o caso do meu companheiro de quarto na universidade, Pettey Bellows. Mesma idade, mesma formação, mas burro como uma porta. Um bom sujeito, compreendam, mas sem nada lá em cima. Do tipo emocional. Instável, impressionável. Pior do que tudo, dado a manias. Eu afirmo que a mania é a própria negação da razão. Deixar-se levar por qualquer nova moda que apareça, entregar a alguma idiotice só porque os outros a segue, isto, para mim, é o cúmulo da insensatez. Petey, no entanto, não pensava assim.

Certa tarde, encontrei-o deitado na cama com tal expressão de sofrimento no rosto que o meu diagnóstico foi imediato: apendicite.

- Não se mexa. Não tome laxante. Vou chamar o médico.

- Couro preto - balbuciou ele.

- Couro preto? - disse eu, interrompendo a minha corrida.

- Quero uma jaqueta de couro preto - disse.

Percebi que o seu problema não era físico, mas mental.

- Por que você quer uma jaqueta de couro preto?

- Eu devia ter adivinhado - gritou ele, socando a cabeça - Devia ter adivinhado que eles voltariam com o Charleston. Como um idiota, gastei todo o meu dinheiro em livros para as aulas e agora não posso comprar uma jaqueta de couro preto.

- Quer dizer - perguntei incrédulo - que estão mesmo usando jaquetas de couro preto outra vez?

- Todas as pessoas importantes da universidade estão. Onde você tem andado?

- Na biblioteca - respondi, citando um lugar não freqüentado pela pessoas importantes da Universidade.

Ele saltou da cama e pôs-se a andar de um lado para o outro do quarto.

- Preciso conseguir uma jaqueta de couro preto - disse, exaltado - Preciso mesmo.

- Por que, Pety? Veja a coisa racionalmente. Jaquetas de couro preto são desconfortáveis. Impedem o movimento dos braços. São pesadas, são feias, são ...

- Você não compreende - interrompeu ele com impaciência - é o que todos estão usando. Você não quer andar na moda?

- Não - respondi, sinceramente.

- Pois eu sim - declarou ele - daria tudo para ter uma jaqueta de couro preto. Tudo.

Aquele instrumento de precisão, meu cérebro, começou a funcionar a todo vapor.

- Tudo? - perguntei, examinando seu rosto com olhos semicerrados.

- Tudo - confirmou ele, em tom dramático.

Alisei o queixo, pensativo. Eu, por acaso, sabia onde encontrar uma jaqueta de couro preto. Meu pai usara um nos seus tempos de estudante; estava agora dentro de um malão, no sótão da casa. E, também por acaso, Petey tinha algo que eu queria. Não era dele, exatamente, mas pelo menos ele tinha alguns direitos sobre ela. Refiro-me à sua namorada, Polly Spy.

Eu há muito desejava Polly Spy. Apresso-me a esclarecer que o meu desejo não era de natureza emotiva. A moça, não há dúvida, despertava emoções, mas eu não era daqueles que se deixam dominar pelo coração. Desejava Polly para fins engenhosamente calculados e inteiramente cerebrais.

Cursava eu o primeiro ano de direito. Dali a algum tempo, estaria me iniciando na profissão. Sabia muito bem a importância que tinha a esposa na vida e na carreira de um advogado. Os advogados de sucesso, segundo as minhas observações, eram quase sempre casados com mulheres bonitas, graciosas e inteligentes. Com uma única exceção, Polly preenchia perfeitamente estes requisitos.

Era bonita. Suas proporções ainda não eram clássicas, mas eu tinha certeza de que o tempo se encarregaria de fornecer o que faltava. A estrutura básica estava lá.

Graciosa também era. Por graciosa quero dizer cheia de graças sociais. Tinha porte ereto, a naturalidade no andar e a elegância que deixavam transparecer a melhor das linhagens. Á mesa, suas maneiras eram finíssimas. Eu já vira Polly no barzinho da escola comendo a especialidade da casa - um sanduíche que continha pedaços de carne assada, molho, castanhas e repolho - sem nem sequer umedecer os dedos.

Inteligente ela não era. Na verdade, tendia para o oposto. Mas eu confiava em que, sob a minha tutela, haveria de tornar-se brilhante. Pelo menos valia a pena tentar. Afinal de contas, é mais fácil fazer uma moça bonita e burra ficar inteligente do que uma moça feia e inteligente ficar bonita.

- Petey - perguntei - você ama Polly Spy?

- Eu acho que ela é interessante - respondeu - mas não sei se chamaria isso de amor. Por quê?

- Você - continuei - tem alguma espécie de arranjo formal com ela? Quero dizer, vocês saem exclusivamente um com o outro?

- Não. Nos vemos seguidamente. Mas saímos os dois com outros também. Por quê?

- Existe alguém - perguntei - algum outro homem que ela goste de maneira especial?

- Que eu saiba não. Por quê?

Fiz que sim com a cabeça, satisfeito.

- Em outras palavras, a não ser por você, o campo está livre, é isso?

- Acho que sim. Aonde você quer chegar?

- Nada, anda - respondi com inocência, tirando minha mala de dentro do armário.

- Onde é que você vai? - quis saber Petey.

- Passar o fim de semana em casa.

Atirei algumas roupas dentro da mala.

- Escute - disse Petey, apegando-se com força ao meu braço - em casa, será que você não poderia pedir dinheiro ao seu pai, e me emprestar para comprar uma jaqueta de couro preto?

- Posso até fazer mais do que isso - respondi, piscando o olho misteriosamente. Fechei a mala e saí.

- Olhe - disse a Petey, ao voltar na segunda feira de manhã. Abri a mala e mostrei o enorme objeto cabeludo e fedorento que meu pai usara ao volante de seu Stutz Beacat em 1955.

- Santo Pai - exclamou Petey com reverência. Passou as mãos na jaqueta e depois no rosto.

- Santo Pai - repetiu, umas quinze ou vinte vezes.

- Você gostaria de ficar com ele? - perguntei.

- Sim - gritou ele, apertando a jaqueta contra o peito. Em seguida, seus olhos assumiram um ar precavido. - O que quer em troca?

- A sua namorada - disse eu, não desperdiçando palavras.

- Polly? - sussurrou Petey, horrorizado. - Você quer a Polly?

- Isso mesmo.

Ele jogou a jaqueta pra longe.

- Nunca - declarou resoluto.

Dei de ombros.

- Tudo bem. Se você não quer andar na moda, o problema é seu.

Sentei-me numa cadeira e fingi que lia um livro, mas continuei espiando Petey, com o rabo dos olhos. Era um homem partido em dois. Primeiro olhava para a jaqueta com a expressão de uma criança desamparada diante da vitrine de uma confeitaria. Depois dava-lhe as costas e cerrava os dentes, altivo. Depois voltava a olhar para a jaqueta. Com uma expressão ainda maior de desejo no rosto. Depois virava-se outra vez, mas agora sem tanta resolução. Sua cabeça ia e vinha, o desejo ascendendo, a resolução descendendo. Finalmente, não se virou mais: ficou olhando para a jaqueta com pura lascívia.

- Não é como se eu estivesse apaixonado por Polly - balbuciou. - Ou mesmo namorando sério, ou coisa parecida.

- Isso mesmo - murmurei.

- Afinal, Polly significa o que para mim, ou eu pra ela?

- Nada - respondi.

- Foi uma coisa banal. Nos divertimos um pouco. Só isso.

- Experimente a jaqueta - disse eu.

Ele obedeceu. A jaqueta ficou bem larga, passando da cintura. Ele parecia um motoqueiro mal vestido da década de cinqüenta.

- Serve perfeitamente - disse, contente.

Levantei-me da cadeira e perguntei, estendendo a mão.

- Negócio feito?

Ele engoliu a seco.

- Feito - disse, e apertou a minha mão.

Saí com Polly pela primeira vez na noite seguinte.

O Primeiro programa teria o caráter de pesquisa preparatória. Eu desejava saber o trabalho que me esperava para elevar a sua mente ao nível desejado. Levei-a para jantar.

- Puxa, que jantar interessante! - disse ela, quando saímos do restaurante. Fomos ao cinema.

- Puxa, que filme interessante! - disse ela, quando saímos do cinema.

Levei-a para casa.

- Puxa, que noite interessante - disse ela, ao nos despedirmos.

Voltei para o quarto com o coração pesado. Eu subestimara gravemente as proporções da minha tarefa. A ignorância daquela moça era aterradora. E não seria o bastante apenas instruí-la. Era preciso, antes de tudo, ensiná-la a pensar. O empreendimento se me afigurava gigantesco, e a princípio me vi inclinado a devolvê-la a Petey. Mas aí comecei a pensar nos seus dotes físicos generosos e na maneira como entrava numa sala ou segurava uma faca, um garfo, e decidi tentar novamente.

Procedi, como sempre, sistematicamente. Dei-lhe um curso de Lógica. Acontece que, como estudante de direito, eu freqüentava na ocasião aulas de Lógica, e portanto tinha tudo na ponta da língua.

- Polly - disse eu, quando fui buscá-la para o nosso segundo encontro. - Esta noite vamos até o parque conversar.

- Ah, que interessante! - respondeu ela.

Uma coisa deve ser dita em favor da moça: seria difícil encontrar alguém tão bem disposta para tudo.

Fomos até o parque, o local de encontros da universidade, nos sentamos debaixo de uma árvore, e ela me olhou cheia de expectativa.

- Sobre o que vamos conversar? - perguntou.

- Sobre Lógica.

Ela pensou durante alguns segundos e depois sentenciou:

- Interessante!

- A Lógica - comecei, limpando a garganta - é a ciência do pensamento. Se quisermos pensar corretamente, é preciso antes saber identificar as falácias mais comuns da Lógica. É o que vamos abordar hoje.

- Interessante! - exclamou ela, batendo palmas de alegria.

Fiz uma careta, mas segui em frente, com coragem.

- Vamos primeiro examinar uma falácia chamada Dicto Simpliciter.

- Vamos - animou-se ela, piscando os olhos com animação.

- Dicto Simpliciter quer dizer um argumento baseado numa generalização não qualificada. Por exemplo: o exercício é bom, portanto todos devem se exercitar.

- Eu estou de acordo - disse Polly, fervorosamente. - Quer dizer, o exercício é maravilhoso. Isto é, desenvolve o corpo e tudo.

- Polly - disse eu, com ternura - o argumento é uma falácia. Dizer que o exercício é bom é uma generalização não qualificada. Por exemplo: para quem sofre do coração, o exercício é ruim. Muitas pessoas têm ordem de seus médicos para não exercitarem. É preciso qualificar a generalização. Deve-se dizer: o exercício é geralmente bom, ou é bom para a maioria das pessoas. Do contrário está-se cometendo um Dicto Simpliciter. Você compreende?

- Não - confessou ela. - Mas isso é interessante. Quero mais. Quero mais!

- Será melhor se você parar de puxar a manga da minha camisa - disse eu e, quando ela parou, continuei:

- Em seguida, abordaremos uma falácia chamada generalização apressada. Ouça com atenção: você não sabe falar francês, eu não sei falar francês, Petey Bellows não sabe falar francês. Devo portanto concluir que ninguém na universidade sabe falar francês.

- É mesmo? - espantou-se Polly. - Ninguém?

Contive a minha impaciência.

- É uma falácia, Polly. A generalização é feita apressadamente. Não há exemplos suficientes para justificar a conclusão.

- Você conhece outras falácias? - perguntou ela, animada. - Isto é até melhor do que dançar.

- Esforcei-me por conter a onda de desespero que ameaçava me invadir. Não estava conseguindo nada com aquela moça, absolutamente nada. Mas não sou outra coisa senão persistente. Continuei.

- A seguir, vem o Post Hoc. Ouça: Não levemos Bill conosco ao piquenique. Toda vez que ele vai junto, começa a chover.

- Eu conheço uma pessoa exatamente assim - exclamou Polly. - Uma moça da minha cidade, Eula Becker. Nunca falha. Toda vez que ela vai junto a um piquenique...

- Polly - interrompi, com energia - é uma falácia. Não é Eula Becker que causa a chuva. Ela não tem nada a ver com a chuva. Você estará incorrendo em Post Hoc, se puser a culpa na Eula Becker.

- Nunca mais farei isso - prometeu ela, constrangida. - Você está bravo comigo?

- Não Polly - suspirei. - Não estou bravo.

- Então conte outra falácia.

- Muito bem. Vamos experimentar as premissas contraditórias.

- Vamos - exclamou ela alegremente.

Franzi a testa, mas continuei.

- Aí vai um exemplo de premissas contraditórias. Se Deus pode fazer tudo, pode fazer uma pedra tão pesada que ele mesmo não conseguirá levantar?

- É claro - respondeu ela imediatamente.

- Mas se ele pode fazer tudo, pode levantar a pedra.

- É mesmo - disse ela, pensativa. - Bem, então eu acho que ele não pode fazer a pedra.

- Mas ele pode fazer tudo - lembrei-lhe.

Ela coçou a cabeça linda e vazia.

- Estou confusa - admitiu.

- É claro que está. Quando as premissas de um argumento se contradizem, não pode haver argumento. Se existe uma força irresistível, não pode existir um objeto irremovível. Compreendeu?

- Conte outra dessas histórias interessantes - disse Polly, entusiasmada.

Consultei o relógio.

- Acho melhor parar por aqui. Levarei você em casa, e lá pensará no que aprendeu hoje. Teremos outra sessão amanhã.

Deixei-a no dormitório das moças, onde ela me assegurou que a noitada fora realmente interessante, e voltei desanimadamente para o meu quarto. Petey roncava sobre sua cama, com a jaqueta de couro encolhida a seus pés. Por alguns segundos, pensei em acordá-lo e dizer que ele podia ter Polly de volta. Era evidente que o meu projeto estava condenado ao fracasso. Ela tinha, simplesmente, uma cabeça à prova de Lógica.

Mas logo reconsiderei. Perdera uma noite, por que não perder outra? Quem sabe se em alguma parte daquela cratera de vulcão adormecido que era a mente de Polly, algumas brasas ainda estivessem vivas. Talvez, de alguma maneira, eu ainda conseguisse abaná-las até que flamejasse. As perspectivas não eram das mais animadoras, mas decidi tentar outra vez.

Sentado sob uma árvore, na noite seguinte, disse:

- Nossa primeira falácia desta noite se chama ad misericordiam.

Ela estremeceu de emoção.

- Ouça com atenção - comecei - Um homem vai pedir emprego. Quando o patrão pergunta quais as suas qualificações, o homem responde que tem uma mulher e dois filhos em casa, que a mulher e aleijada, as crianças não tem o que comer, não tem o que vestir nem o que calçar, a casa não tem camas, não há carvão no porão e o inverno se aproxima.

Uma lágrima desceu por cada uma das faces rosadas de Polly.

- Isso é horrível, horrível! - soluçou.

- É horrível - concordei - mas não é um argumento. O homem não respondeu à pergunta do patrão sobre as suas qualificações. Ao invés disso, tentou despertar a sua compaixão. Cometeu a falácia de ad misericordiam. Compreendeu?

Dei-lhe um lenço e fiz o possível para não gritar enquanto ela enxugava os olhos.

- A seguir - disse, controlando o tom da voz - discutiremos a falsa analogia. Eis um exemplo: deviam permitir aos estudantes consultar seus livros durante os exames. Afinal, os cirurgiões levam as radiografias para se guiarem durante uma operação, os advogados consultam seus papéis durante um julgamento, os construtores têm plantas que os orientam na construção de uma casa. Por quê, então, não deixar que os alunos recorram a seus livros durante uma prova?

- Pois olhe - disse ela entusiasmada - está e a idéia mais interessante que eu já ouvi há muito tempo.

- Polly - disse eu com impaciência - o argumento é falacioso. Os cirurgiões, os advogados e os construtores não estão fazendo teste para ver o que aprenderam, e os estudantes sim. As situações são completamente diferentes e não se pode fazer analogia entre elas.

- Continuo achando a idéia interessante - disse Polly.

- Santo Cristo! - murmurei, com impaciência.

- A seguir, tentaremos a hipótese contrária ao fato.

- Essa parece ser boa - foi a reação de Polly.

- Preste atenção: se Madame Curie não deixasse, por acaso, uma chapa fotográfica numa gaveta junto com uma pitada de pechblenda, nós hoje não saberíamos da existência do rádio.

- É mesmo, é mesmo - concordou Polly, sacudindo a cabeça. - Você viu o filme? Eu fiquei louca pelo filme. Aquele Walter Pidgeon é tão bacana! Ele me faz vibrar.

- Se conseguir esquecer o Sr. Pidgeon por alguns minutos - disse eu, friamente - gostaria de lembrar que o que eu disse é uma falácia. Madame Curie teria descoberto o rádio de alguma outra maneira. Talvez outra pessoa o descobrisse. Muita coisa podia acontecer. Não se pode partir de uma hipótese que não é verdadeira e tirar dela qualquer conclusão defensável.

- Eles deviam colocar o Walter Pidgeon em mais filmes - disse Polly - Eu quase não vejo ele no cinema.

Mais uma tentativa, decidi. Mas só mais uma. Há um limite para o que podemos suportar.

- A próxima falácia é chamada de envenenar o poço.

- Que engraçadinho! - deliciou-se Polly.

- Dois homens vão começar um debate. O primeiro se levante e diz: ‘o meu oponente é um mentiroso conhecido. Não é possível acreditar numa só apalavra do que ele disser’. Agora, Polly, pense bem, o que está errado?

Vi-a enrugar a sua testa cremosa, concentrando-se. De repente, um brilho de inteligência - o primeiro que vira - surgiu nos seus olhos.

- Não é justo! - disse ela com indignação - Não é justo. O primeiro envenenou o poço antes que os outros pudesse beber dele. Atou as mãos do adversário antes da luta começar... Polly, estou orgulhoso de você.

- Ora - murmurou ela, ruborizando de prazer.

- Como vê, minha querida, não é tão difícil. Só requer concentração. É só pensar, examinar, avaliar. Venha, vamos repassar tudo o que aprendemos até agora.

- Vamos lá - disse ela, com um abano distraído da mão.

Animado pela descoberta de que Polly não era uma cretina total, comecei uma longa e paciente revisão de tudo o que dissera até ali. Sem parar citei exemplos, apontei falhas, martelei sem dar trégua. Era como cavar um túnel. A princípio, trabalho duro e escuridão. Não tinha idéia de quando veria a luz ou mesmo se a veria. Mas insisti. Dei duro, até que fui recompensado. Descobri uma fresta de luz. E a fresta foi se alargando até que o sol jorrou para dentro do túnel, clareando tudo.

Levara cinco noites de trabalho forçado, mas valera a pena. Eu transformara Polly em uma lógica, e a ensinara a pensar. Minha tarefa chegara a bom termo. Fizera dela uma mulher digna de mim. Está apta a ser minha esposa, uma anfitriã perfeita para as minhas muitas mansões. Uma mãe adequada para os meus filhos privilegiados.

Não se deve deduzir que eu não sentia amor por ela. Muito pelo contrário. Assim como Pigmaleão amara a mulher perfeita que moldara para si, eu amava a minha. Decidi comunicar-lhe os meus sentimentos no nosso encontro seguinte. Chegara a hora de mudar as nossas relações, de acadêmicas para românticas.

- Polly, disse eu, na próxima vez que nos sentamos sob a árvore - hoje não falaremos de falácias.

- Puxa! - disse ela, desapontada.

- Minha querida - prossegui, favorecendo-a com um sorriso - hoje é a sexta noite que estamos juntos. Nos demos esplendidamente bem. Não há dúvidas de que formamos um bom par.

- Generalização apressada - exclamou ela, alegremente.

- Perdão - disse eu.

- Generalização apressada - repetiu ela. - Como é que você pode dizer que formamos um bom par baseado em apenas cinco encontros?

Dei uma risada, contente. Aquela criança adorável aprendera bem as suas lições.

- Minha querida - disse eu, dando um tapinha tolerante na sua mão - cinco encontros são o bastante. Afinal, não é preciso comer um bolo inteiro para saber se ele é bom ou não.

- Falsa Analogia - disse Polly prontamente - eu não sou um bolo, sou uma pessoa.

Dei outra risada, já não tão contente. A criança adorável talvez tivesse aprendido a sua lição bem demais. Resolvi mudar de tática. Obviamente, o indicado era uma declaração de amor simples, direta e convincente. Fiz uma pausa, enquanto o meu potente cérebro selecionava as palavras adequadas. Depois reiniciei.

- Polly, eu te amo. Você é tudo no mundo pra mim, é a lua e a estrelas e as constelações no firmamento. For favor, minha querida, diga que será minha namorada, senão a minha vida não terá mais sentido. Enfraquecerei, recusarei comida, vagarei pelo mundo aos tropeções, um fantasma de olhos vazios.

Pronto, pensei; está liquidado o assunto.

- Ad misericordiam - disse Polly.

Cerrei os dentes. Eu não era Pigmaleão; era Frankenstein, e o meu monstro me tinha pela garganta. Lutei desesperadamente contra o pânico que ameaçava invadir-me. Era preciso manter a calma a qualquer preço.

- Bem, Polly - disse, forçando um sorriso - não há dúvida que você aprendeu bem as falácias.

- Aprendi mesmo - respondeu ela, inclinando a cabeça com vigor.

- E quem foi que ensinou a você, Polly?

- Foi você.

- Isso mesmo. E portanto você me deve alguma coisa, não é mesmo, minha querida? Se não fosse por mim, você nunca saberia o que é uma falácia.

- Hipótese Contrária ao Fato - disse ela sem pestanejar.

Enxuguei o suor do rosto.

- Polly - insisti, com voz rouca - você não deve levar tudo ao pé da letra. Estas coisas só têm valor acadêmico. Você sabe muito bem que o que aprendemos na escola nada tem a ver com a vida.

- Dicto Simpliciter - brincou ela, sacudindo o dedo na minha direção.

Foi o bastante. Levantei-me num salto, berrando como um touro.

- Você vai ou não vai me namorar?

- Não vou - respondeu ela.

- Por que não? - exigi.

- Porque hoje à tarde eu prometi a Petey Bellows que eu seria a namorada dele.

Quase caí para trás, fulminado por aquela infâmia. Depois de prometer, depois de fecharmos negócio, depois de apertar a minha mão!

- Aquele rato! - gritei, chutando a grama. - Você não pode sair com ele, Polly. É um mentiroso. Um traidor. Um rato.

- Envenenar o poço - disse Polly - E pare de gritar. Acho que gritar também deve ser uma falácia.

Com uma admirável demonstração de força de vontade, modulei a minha voz.

- Muito bem - disse - você é uma lógica. Vamos olhar as coisas logicamente. Como pode preferir Petey Bellows? Olhe para mim: um aluno brilhante, um intelectual formidável, um homem com futuro assegurado. E veja Petey: um maluco, um boa vida, um sujeito que nunca saberá se vai comer ou não no dia seguinte. Você pode me dar uma única razão lógica para namorar Petey Bellows?

- Posso sim - declarou Polly - Ele tem uma jaqueta de couro preto.

( in Sulman, M. (1973): As calcinhas cor-de-

rosas do Capitão, Porto Alegre: Ed. Globo)

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Brasil, Colônia...

Acompanho muitos fóruns de discussão e blogs sobre ateísmo. Em todos eles, sempre existe um tópico falando sobre músicas com temática ateístas, ou anti-religiosas.

Em nenhum deles vi uma das músicas mais pragmáticas e diretas sobre esse assunto. Centenas de bandas e artistas internacionais figuram nessas listas, mas todos se esquecem de um ícone aqui do Brasil.

Sem mais, deixo vocês com IGREJA - TITÃS


Eu não gosto de padre
Eu não gosto de madre
Eu não gosto de frei.
Eu não gosto de bispo
Eu não gosto de Cristo
Eu não digo amém.
Eu não monto presépio
Eu não gosto do vigário
Nem da missa das seis.
Não! Não!
Eu não gosto do terço
Eu não gosto do berço
De Jesus de Belém.
Eu não gosto do papa
Eu não creio na graça
Do milagre de Deus.
Eu não gosto da igreja
Eu não entro na igreja
Não tenho religião.
Não!
Não! Não gosto! Eu não gosto!
Não! Não gosto! Eu não gosto!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Luto


Um dos maiores nomes da história do Heavy Metal morreu. Ronnie James Dio. Vocalista de bandas como Rainbow e Black Sabbath e quem introduziu no metal o seu maior símbolo. Um dia para ouvir músicas excelentes, e lembrar de um dos maiores.

Um fato interessante. Quando músicos famosos do mundo pop gravaram a música "We are the world" nenhum grande nome do metal foi chamado. Então, Dio escreveu uma música, chamou diversos nomes do metal com o mesmo objetivo do "hit" pop. O resultado foi um clássico que reuniu nomes como Rob Halford, Adrian Smith, Yngwie Malmsteen, e muitos outros. A música chama-se "Hear n'Aid, We're stars". Aqui vai o link - http://www.youtube.com/watch?v=P7eqxg92YG0&feature=player_embedded


Para quem curte, deixo alguns links para alguns dos maiores clássicos da carreira de Dio.





Atualização com a mensagem no site oficial do vocalista http://www.ronniejamesdio.com/

Message from Wendy Dio

Today my heart is broken, Ronnie passed away at 7:45am 16th May. Many, many friends and family were able to say their private good-byes before he peacefully passed away. Ronnie knew how much he was loved by all. We so appreciate the love and support that you have all given us. Please give us a few days of privacy to deal with this terrible loss. Please know he loved you all and his music will live on forever.

- Wendy Dio




quarta-feira, 5 de maio de 2010

Pão e Circo

Você com certeza já ouviu falar da política de pão e circo. Se você mora no Brasil, em algum momento já ouviu a comparação entre o Futebol no Brasil, e a política de pão e circo. Por algum tempo eu concordei com isso. Mas depois de acompanhar rapidamente os diversos jogos de hoje (resolvi colocar minha implicância a prova) cheguei a conclusão de que estamos muito enganados em relação a isso.

Pense bem. Gladiadores lutavam armados na frente de milhares de pessoas, em muitos casos até a morte. Claro, os mais famosos não morriam de forma leviana, e as lutas eram em parte arranjadas, mas... leões, gladiadores armados, uma arena como o Coliseu, que em duas ocasiões foi inundada para representar batalhas navais, enfim, um milagre da civilização.

Agora, compare isso com o futebol brasileiro. Jogadores sem a menor lealdade a nada, que jogam sem nenhuma vontade, que preferem se atirar no chão para cavar uma falta ao invés de tentar realizar uma jogada, dirigentes que estão mais preocupados com o próprio bolso do que em gerenciar um time, uma torcida que age como se a realização pessoal dependesse do resultado do time...

Ou seja, o futebol no Brasil esta longe de ser um pão e circo. O futebol teria que ser levado muito mais a sério pelos profissionais que realizam o futebol para merecer essa comparação. Os únicos que realmente se importam com o futebol são os torcedores. Aqueles que ganham e dedicam suas vidas ao espetáculo do futebol, não estão nem um pouco preocupados com a qualidade desse espetáculo.

A conclusão inevitável é que assim como o Bento Carneiro é o vampiro brasileiro, o futebol é o pão e circo brasileiro. Um engodo do engodo. Uma farsa mal feita. Um pão e circo de mentirinha.

Parabéns! No circo brasileiro, o palhaço é você!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Os Biellenses, Gente Dura*



Certo dia, um camponês descia para Biella. O tempo estava tão feio que quase não dava para andar pela estrada. Mas o camponês tinha um compromisso importante e continuava a caminhar de cabeça baixa, enfrentando a chuva e a tempestade.

Encontrou um velho que lhe disse:
- Bom dia! Aonde vai, bom homem, com tanta pressa?
- Para Biella - Disse o camponês sem se deter.
- Poderia dizer ao menos "se Deus quiser".

O camponês parou, encarou o velho e contestou:

- Se Deus quiser, vou para Biella; e, se Deus não quiser, vou do mesmo jeito.

Ora, acontece que aquele velho era o Senhor.

- Então, você irá para Biella dentro de sete anos - disse-lhe - Nesse ínterim, dê um mergulho naquele pântano e fique por lá sete anos.

E o camponês se transformou em uma rã de um só golpe, deu um salto e sumiu no pântano.

Passaram-se sete anos. O camponês saiu do pântano, virou homem, enfiou o chapéu na cabeça e retomou a estrada para o mercado.

Após alguns passos, eis de novo aquele velho.

- Aonde é que vai, bom homem?
- Para Biella.
- Poderia diser: "se Deus quiser".
- Se Deus quiser, melhor; caso contrário, já conheço as regras, e posso ir sozinho para o pântano.

E não houve jeito de arrancar nem mais uma palavra dele.



*Texto retirado do livro "Fábulas Italianas". De Italo Calvino.

**Imagens da cidade de Biella, Itália.

domingo, 25 de abril de 2010

Educação e Desenvolvimento



Dois pesquisadores franceses, após uma pesquisa de 32 anos, demonstraram que desenvolvimento econômico sem desenvolvimento humano, é insustentável.
Utilizaram dois parâmetros para avaliar o desenvolvimento Humano. Educação e saúde.

Com esses indicadores, temos dois cenários. Países equilibrados, e países desequilibrados. Um país pode estar equilibrado com os dois indicadores altos, ou os dois indicadores baixos. Um país desequilibrado tem desenvolvimento econômico, e falha no desenvolvimento humano, ou o contrário.

Agora a parte interessante. Os resultados dessa avaliação.

1 - Países com um bom desenvolvimento econômico e humano, tendem a manter esse quadro. Dificilmente um país nessas condições vai sofrer quedas.

2 - Do outro lado, países com equilíbrio negativo, tendem a manter essa situação. A maioria absoluta dos países que estavam nessa situação na década de 60, mantém essa situação até hoje.

3 - Desenvolvimento econômico, sem desenvolvimento humano, é insustentável. É o caso do Brasil na década de 60. Aliás, o Brasil passa pelo mesmo problema agora. Diversas áreas já sofrem pela falta de mão-de-obra qualificada. Um país nessa situação, não consegue alimentar o próprio crescimento, e sucumbe.

4 - Países em desenvolvimento, que optam por investir no lado humano, tem uma chance muito maior de alcançar o chamado 1° Mundo, do que países que só investem no desenvolvimento econômico.

Os resultados são bem claros. Ou se investe em educação, ou mesmo um país com excelentes condições econômicas, vai sucumbir.

Agora vamos observar o Brasil. Estudos demonstraram que apenas 25% da população adulta brasileira é plenamente alfabetizada. Ou seja, apenas 1/4 dos brasileiros adultos conseguiria ler e entender um texto como esse. Nenhum país conseguiu virar uma potência mundial sem educação nos últimos 30 anos. É improvável que o Brasil seja o primeiro.



Ainda pior. Ao longo do tempo, o Brasil só teve perdas na educação. Quando comparamos o ensino superior no Brasil da década de 70 com outros países desenvolvidos da América Latina, como Chile e Argentina, nossa educação não era muito defasada. Atualmente, essa comparação é vergonhosa para o Brasil. E o quadro é ainda pior quando comparamos com países da Europa. Mesmo países com problemas, como a Itália, ficam muito na frente do Brasil.

A lição é clara e objetiva

Sem educação = Sem desenvolvimento

Não temos como fugir disso. Qualquer política que tenha como objetivo mudar o Brasil, tem na educação a chave para isso. E não estamos falando de universidades com nível internacional. Em um país, onde apenas 1/4 da população compreende esse texto na íntegra, o problema é muito mais elementar. É preciso ensinar as pessoas a pensar, a interpretar, a compreender o conhecimento, e só o ensino básico faz isso. Temos que investir em universidades, CLARO! Mas temos que realizar um esforço ainda maior na educação mais elementar. Sem bons professores, sem condições adequadas de ensino, sem uma rede de ensino público eficiente e de qualidade, o Brasil nunca vai mudar. Vamos continuar sendo apenas a terra do Carnaval, do futebol, do turismo sexual, e do analfabetismo.




Aos Mártires de Nossa Ignorância

Vamos voltar um pouco no tempo e observar uma caverna na África, há 15.000 anos. Imaginem nossos antepassados reunidos em volta do fogo, ouvindo alguma história do ancião do bando. Ele transformou-se em uma presa fácil. Em breve, abandonará o bando, ou será atacado por um algum predador. Os jovens escutam, avidamente, aquela que pode ser sua última história.

O fogo chega ao fim, suspira com as últimas brasas, tornando ainda mais míticos os olhos do ancião. O ar pesado do dia cede espaço à escuridão. Um clarão ilumina a entrada da caverna, apenas um segundo depois um estrondo preenche o mundo. Todos se encolhem tremendo, algumas crianças começam a choram, uma jovem que teve seu primeiro filhote começa a entrar em pânico. Então, a voz grave do ancião atinge os ouvidos de todos, primeiro um som chiado, a mão em frente a boca. As crianças silenciam. A mão do ancião passa em torno dos ombros da jovem mãe, que repousa a cabeça nos ombros do ancião, enquanto aperta com mais força sua cria contra o peito.

O velho começa a contar sobre um dos Grandes, um dos chamados Além do Mundo. Ele conta como o Grande Leão,que habita as nuvens, ao perceber seu eterno inimigo, o Grande Falcão mergulhando para um ataque, Ruge com enorme ferocidade, e preenche o mundo com o ribombar de seu poderoso corpo. Nós também podemos observar o início de mais uma das batalhas.

- Lembram do clarão antes do Rugido? Questiona o velho para todos. E ele mesmo responde:

- Era o Pai Sol, brilhando acima das nuvens, que iluminou as asas prateadas do Grande Falcão, e alertou o Grande Leão sobre o ataque.

O ancião continua falando, e paulatinamente todos vão se acalmando. O velho conta sobre o início da Guerra, quando o Pai Sol decidiu que a vasta Planície merecia companhia. Ele criou o Grande Leão, e o Grande Falcão, e então a grande Guerra começou. Os ferimentos dos Grandes Espíritos, ao sangrar nutriram a Grande Planície, e ela floresceu. E sempre que os animais e as plantas começam a morrer, e precisam de mais vida, os Grandes espíritos em sua batalha, doam mais um pouco de sua vida para a Planície, que novamente se enche de esplendor. É por isso que ao batalhar com as outras tribos, deixamos os muito feridos e os mortos para o mundo. O sangue deles se mistura ao sangue dos Grandes Espíritos, e nutre o mundo.


Quantas outras histórias parecidas foram criadas ao longo da história da nossa civilização? Quantas noites foram dedicadas pelos homens mais sábios de sua época, em contemplação às tempestades? Quantas perguntas foram feitas? Quantas vezes nossos antepassados tremeram perante o poder de Zeus, Thor, Shiva…? Quantas virgens foram sacrificadas para aplacar a fúria de algum Deus tirano para que ele enfim mandasse chuva para as plantações?

Nossos antepassados, das mais diferentes épocas, sofreram o mesmo problema daquele pequeno bando, e desenvolveram as mais ricas histórias para explicar os fenômenos que estavam além da sua compreensão. Nossa ignorância, nosso medo frente ao desconhecido já causou muita dor, muitos sacrifícios. Será que não temos responsabilidades sobre essas mortes?

O que pensariam essas vítimas da ignorância humana, esses pobres indivíduos, que se sentiram orgulhosos no sacrifício, se tivessem conhecimento dos mecanismos que controlam as chuvas e as tempestades?

Olhando para o presente, podemos observar os homens sábios de nosso tempo, que continuam a contemplar as tempestades, com mais assombro e reverência que em qualquer outra época. Não por temor ao desconhecido como nossos antepassados, mas justamente pelo contrário. Não precisamos mais atribuir esses fenômenos aos deuses, pois hoje conseguimos explicar os mesmos. Pense sobre como ocorrem as grandes tempestades, procure no Google sobre a importância das chuvas nos ciclos biogeoquímicos, fundamentais para a manutenção dos ecossistemas atuais. Pensem nos primórdios da vida. Vamos observar as cianobactérias contaminando o ambiente com Oxigênio. Veja a água dos mares se tornando cada vez mais clara, enquanto o Ferro que lhe conferia uma cor alaranjada se combina com esse novo oxigênio, e forma os grandes depósitos de minério que são fundamentais para nossa economia atualmente.

Olhando com mais atenção para nossa história, observamos que por mais absurdas ou incognoscíveis que as perguntas possam parecer no presente, o futuro pode muito bem considerá-las triviais, simples questões destinadas às crianças.

Claro, temos nossas grandes perguntas que ainda não foram respondidas, imagino que cada tempo tenha suas próprias questões, e para aqueles que vivenciam esse momento, elas sempre são assombrosas, aterradoras, dignas de uma reverência religiosa.

Mas temos uma dívida com os “mártires” da nossa história. Devemos aos que foram sacrificados durante a jornada de nossa espécie. Eles merecem justiça. Claro que não a justiça do tipo preguiçoso, que espera por uma eventual interferência divina em algum momento.Vidas únicas com uma ínfima probabilidade de existir foram ceifadas pela nossa ignorância. Seres únicos, que nunca mais terão a oportunidade de existir, foram destruídos para aplacar o medo de nossos antepassados.

Não podemos permitir que milhares de sacrifícios sejam em vão. Possuímos a responsabilidade moral de aprender com o erro de nossos antepassados. Nossa história já demonstrou que não devemos ceder à ignorância e ao medo do desconhecido. Que essas inúmeras mortes tenham um propósito. Que cada vida perdida seja um incentivo ao conhecimento, um brado contra o temor ao divino. Que a razão nos dê discernimento para que nunca mais existam vítimas da nossa ignorância.

sábado, 24 de abril de 2010

Primeira Postagem

Sim, vamos começar com um título NADA original. Até porque o blog surgiu de um brainstorm bizarro, onde finalmente decidi um nome, e depois, mudei pra algo ainda melhor (na minha modesta opinião, claro).

Bom, o nome era pra ser Losing My Religion. Por quê? Oras, eu perdi a fé nas religiões, em um Deus, nas pessoas, nas instituições... eu realmente acredito que algo precisa mudar, e logo, ou o colapso é inevitável. Mas eu descobri que alguém já tinha usado esse nome (óbvio, mané! A música mais escutada do R.E.M já teria sido utilizada, claro!), e então, procurando alguma variação (lostmyreligion, pra ser exato) foi que aconteceu o tal brainstorm. Bom, agora vocês já perceberam o nome do blog, e já sabem porque se chama assim.

Bom, esse vai ser meu espaço pra publicar textos de divulgação científica, falar mal das coisas que desprezo, e claro, para falar do que eu gosto e desejo.
ps: Eu tenho outros textos melhores, mas como estava ansioso já pra criar logo o blog, vou usar esse aqui mesmo. Em breve vou alterar o visual, etc... AGUARDEM!!!